03 maio 2024

Os novos caminhos de quem vive do artesanato no período da pandemia

 

Um setor que precisou se reinventar e se mostrou mais forte

Já se vão quase três meses que as medidas de isolamento e distanciamento social por conta da pandemia do coronavírus mudaram a rotina de todos. Entre as consequências deste novo momento, as pessoas permaneceram muito mais tempo de casa. 

Como forma de passar o tempo confinada no lar, teve gente que investiu em exercícios em casa, outros colocaram leituras e séries em dia. No entanto, um número cada vez maior de pessoas tem apostado em uma antiga prática: o artesanato.

Segundo pesquisa realizada pela empresa que realiza a Mega Artesanal, feira de produtos e técnicas para artes manuais da América Latina, três pontos marcaram o comportamento do mercado durante a pandemia. Primeiro que, no Brasil, comércio e indústria do artesanato mantiveram as vendas acontecendo neste período.

Outra situação apontada entre os mais de 500 expositores da feira revela que os pequenos comércios precisaram se reinventar para conseguir atender a demanda de quem buscou nas artes manuais uma solução. Além disso, a pesquisa mostrou que os consumidores com mais tempo em casa assistem a tutoriais na internet, compram insumos pelo WhatsApp e redescobrem o prazer terapêutico do fazer manual.

As artes manuais como forma de terapia fez com que o termo “faça você mesmo” retomasse força e transformasse a incerteza de um período em solução para algumas pessoas e necessidade de reinvenção para outros.

Dentista inverteu prioridade 

Dentista divide tempo com o consultório, mas agora prioriza o artesanato. Foto: Marcelo Casagrande / Agencia RBS

Dentista e odontopediatra, Mara Couto está no mercado do artesanato desde 2010. Reconhecida por conta das bonecas de pano que faz — e que iniciou a confeccionar há 18 anos — e pelos cursos que ministra, ela sempre dividiu a carreira na Odontologia com a paixão pela arte. No entanto, durante a pandemia, o caminho que era tratado como um hobbie se apresentou de outra maneira.

— O meu novo mercado é melhor que o consultório. Essa quarentena me mostrou isso. É uma coisa que eu amo fazer, mas eu dividia minha vida no meio. As bonecas desde 2010 trabalho como um negócio, mas ainda em forma de hobbie. Agora, vou continuar com o consultório, mas inverto esse processo. O negócio artesanato passa a ser o meu principal — admite Mara.

Essa mudança não é por acaso. Antes do início da pandemia, Mara vendia livros e revistas que produz com os moldes e os ensinamentos de como fazer a arte das bonecas. Nos últimos três meses, no entanto, ela digitalizou todo o material e começou a comercializar pela internet. Suas vendas cresceram, não só no material online, mas também nos exemplares impressos e enviados por correspondência.

As redes sociais serviram como catapulta para que essas vendas se ampliassem. Mara fortaleceu o trabalho com as lives ensinando a arte das bonecas e viu um boom de pessoas acompanhando suas atividades.

— Juntando Instagram e Facebook, só na quarentena já são quatro mil novos seguidores _ diz orgulhosa a artesã, que tem quase 10 mil seguidores em uma rede e mais de 26 mil curtidas na página em outra.

O cuidado em cada detalhe que Mara tem quando faz suas bonecas reflete também no carinho com que trata cada peça que vende. Além das revistas e dos cursos, Mara comercializa também peças e artigos para que as pessoas consigam produzir suas próprias bonecas de pano, como óculos, enfeites para cabelos e até os cabides em tamanhos reduzidos para cada modelo diferente feito por suas alunas.

O aumento das vendas e o aumento do prazo com que os Correios estão trabalhando acabam gerando alguma dificuldade, mas não impedem a expansão das atividades.

— Quando a entrega é por Sedex mais fácil, não há grande problema. A dificuldade ocorre mais em cartas para enviar as revistas, principalmente. Como mudou o processo dos Correios nesse período, algumas pessoas demoram um pouco mais a receber — afirma a designer de moda Silvia Cioato, braço direito de Mara nas produções e que organiza boa parte do trabalho de comércio online.

Foto: Marcelo Casagrande / Agencia RBS

Em um grupo de empreendedores do artesanato na Associação da Empresas de Pequeno Porte do RS (Microempa), Mara encontra com pessoas interessadas em fortalecer o setor, que tem mostrado seu crescimento mesmo em uma hora de dificuldade.

Mara mudou de prioridade e tornou o artesanato seu negócio principal. Ainda que não abandone a Odontologia, ela sabe que sua decisão é reflexo de uma mudança no comportamento de muita gente.

— Muitas pessoas começaram a me acompanhar neste momento, e isso me motiva ainda mais. E acabo percebendo que, fazendo o que a gente gosta, não tem como dar errado — conclui a artesã.

Fonte: Pioneiro.

Rio Artes